6 meses! Inacreditável! Já faz meio ano que estou aqui e não consegui escrever nem uma linha nesse blog. Venho aqui parabenizar a todos os donos de blogs que os mantêm atualizados, como é que vcs conseguem?? Tudo bem, vou confessar que desde que cheguei aqui, e até antes, estive numa correria só, mas será que é desculpa?
Enfim, sendo ou não, vou fazer aqui um breve relato desses meses.
Depois de 2 meses maravilhosos de Antártica, tive pouco tempo no Brasil pra terminar minhas malas, dar tchau pra todo mundo e pegar o avião. Foi uma loucura. Mas finalmente estava no avião, de volta à NZ. Acho que todos os meus amigos sabem a paixão que tenho por esse país e há qto tempo eu planejava voltar pra cá. Estava receosa de chegar aqui e me deparar com um país diferente daquele que eu lembrava, como é normal com memórias. Tbm sabia que não ia ser fácil, principalmente nos primeiros meses, como nunca é. Aqueles que já moraram fora devem saber do que estou falando. E sempre esquecemos o QTO é difícil no começo.
Dessa vez acho que foi tudo ainda mais difícil. A saudade dos amigos e da família sempre é o que mais faz a adaptação ser difícil. Sentimos falta da companhia, das baladas, das viagens, e até fazermos novos amigos é tudo bem solitário, mas como dizemos aqui, doable (fazível). Essa saudade, como sempre, esteve presente na minha chegada. Mas dessa vez, tinha muito mais. Das outras vezes eu não tinha sobrinhos e devo confessar que quando eles chegaram, repensei várias vezes a minha vinda pra cá. Tbm não estava em nenhum relacionamento sério. Não tinha um bom salário e não estava numa posição privilegiada no meu emprego. Tbm não tinha a idade que eu tinha. Tbm não escalava e não imaginava que ia sentir tantas saudades da rocha do Brasil. Esses e alguns outros motivos fizeram os meus primeiros meses aqui duros em alguns momentos, apesar de toda a diversão. Mas eu já sabia...não ia ser fácil. Como nunca é.
Agora, 6 meses passados, posso dizer com tranqüilidade que essa fase dura está passando. Demorou mais dessa vez, mas já há algum tempo tudo está se encaixando, amigos brotando e tudo acontecendo. Tudo mais fácil. Momentos duros são cada vez mais raros. As saudades continuam, como sempre. Mas pra quem mora fora é assim, aprendemos a lidar com ela.
Sentimentos explicados, vamos aos fatos.
O CURSO, A CIDADE, A CASA
Pros que não sabem, vim pra cá fazer um curso que se chama Diploma in Outdoor Instruction and Management (
http://www.aoraki.ac.nz/courses/outdoor ). É um curso de três anos, mas há a possibilidade de fazer apenas o primeiro, o primeiro e o segundo, só o segundo ou os três anos. A coisa aqui é levada a séria e pra se tornar instrutor de qualquer esporte outdoor (ou qual ser que seja o nome que vcs queiram chamar – só não me venham com esportes radicais, por favor) vc precisa de qualificação, e já te digo, a coisa não é fácil não. Enfim, são anos e anos de estudo e experiência, sem contar que esse povo aqui começa cedo. As escolas em geral oferecem algum tipo de atividade outdoor pra molecada e é normal ver a meninada novinha escalando, remando, esquiando, ou fazendo qualquer outra coisa. Bonito mesmo de ver. Por causa da minha experiência (tanto como professora, quanto em escalada e montanhismo) fui admitida direto no 2º ano. Apesar de ter avisado a eles que eu não tinha tanta experiência assim em escalada e montanha, eles insistiram em me colocar direto aqui. Ainda não sei se estou no lugar certo, mas estou correndo atrás...e haja fôlego...
Enfim, o curso é em uma cidade que se chama Timaru, na costa leste da ilha do sul
(
http://maps.google.co.nz/maps?f=q&source=s_q&hl=en&geocode=&q=266+Church+Street,+Timaru,+Canterbury&sll=-41.244772,172.617188&sspn=28.027976,78.662109&ie=UTF8&hq=&hnear=266+Church+St,+West+End,+Timaru+7910&ll=-41.112469,174.375&spn=14.066316,39.331055&t=h&z=5 ). A cidade em si, não é lá grandes coisas, mas também não é das piores. Com 28 mil habitantes tem tudo o que preciso - lojas, restaraurantes, pubs, cafés, teatro, cinema, etc... - mas não tem o caos das cidades grandes. Quase tudo é perto pra ir de bike, mas se preciso pegar o carro, até na hora do rush não me leva mais que 10 minutos pra chegar nos lugares. Não é a cidade mais bonita do mundo, mas o fato do clima ser quase sempre ensolarado é uma boa coisa. Além disso, da minha rua vejo o mar de um lado e do lado oposto as montanhas nevadas. O fato de que posso colocar o caiaque no carro e em 5 minutos estar na praia, de água limpa, no meio da cidade, tbm não dá pra reclamar. Ou ir pra um dos melhores rios da NZ em menos de 1 hora...e estar a 20 minutos de uma área de escalada em rocha, tbm não dá pra reclamar. É. Não é tão mal assim. A cidade não está numa West Coast, cheia de florestas e montanhas no quintal de casa como era em Haast, mas tbm não está tão longe assim. 3 horas de viagem me levam a lugares sensacionais e com uma ou duas horinhas a mais, estou em lugares mais fantásticos ainda.
Por causa da minha viagem pra Antártica e passagem pelo Brasil, tive que chegar 15 dias atrasada pro curso. Isso significa que a correria já começou lá, no começo de fevereiro qdo cheguei. Aliás, a minha chegada foi um tanto qto que, digamos, interessante.
No dia que cheguei, a Kerry, da Aoraki Polytech, onde estou fazendo o curso, me pegou no aeroporto e me levou pra casa onde estou morando. Ainda no Brasil, depois de consultar alguns professores da poli, resolvi que o ideal seria eu morar com mais um povo que está fazendo o curso. Um povo animado, que curte viajar e fazer o que tiver pra fazer. Tbm um povo dedicado ao curso e que poderiam me ajudar com tudo o que eu tinha perdido nesses 15 dias. O povo mais adequado, segundo os professores, seria eu morar com o povo do meu flat. Nele eu ia encontrar:
Asher: kiwi, 3º anista, O CARA! Bom em tudo, caiaque, escalada em rocha e gelo, montanhismo, ski e seja lá o que for.
Dan: kiwi, 3º anista, O BALADEIRO! Gente boníssima, excelente em caiaque e rocha. Ama uma balada e dormir até. Adora deixar a papelada pra ultima hora, mas excelente instrutor.
Brucie: kiwi, 2º anista (minha turma), O FIGURA! Adora uma palhaçada, mas é muuito do bem! Manda mto bem na montanha e no caiaque.
Owen: Taiwanês, mas na NZ já há 8 anos ou mais (nem sei), 2º anista (minha turma)! Um dos objetivos é voltar vivo das suas viagens. Manda muuito bem na escalada e na montanha.
Pois é. Caí nesse flat numa tarde ensolarada de verão, tentando imaginar como seria morar com 4 jovens estudantes. Afinal, depois de velhos, ficamos meio frescos e nem tudo é tão fácil.
Ash, eu e Owen depois de nossa escalada no gelo em Wye Creek, Queenstown.
A primeira impressão da casa do lado de fora foi ok. Como de se esperar em casas de estudantes, jardim descuidado e grama pra ser cortada. Por outro lado, ampla, com uma boa área e boa localização. Daí foi hora da primeira impressão do lado de dentro. Dois rapazes abriram a porta pra mim, eram o Owen e o Brucie. Super simpáticos e prestativos. Ao entrar, um cheiro de molhado e a primeira vista da cozinha...pratos por todos os lados.
Só vi a cara da Kerry, que, na hora deu pra sacar, estava preocupada com meu bem estar. Fui levada ao meu quarto pelo Brucie, enquanto o Owen tirava uns varais com roupa molhada lá de dentro. Apesar de ser um dia de sol, deu pra perceber que pelo jeito tinha chovido a semana toda, já que tinha roupa pendurada pra todo lado. Hmmm, imaginei, vai ser interessante. A Kerry, sem falar nada, a cada minuto se mostrava mais chocada. No quarto, eu esperava ver uma cama me esperando, mas ao contrario, vi um quarto pequeno, um tanto quanto sujo e vazio. Aiai, pensei. Será?? No meio dos meus pensamentos, os meninos, que estavam se preparando pra uma aula de caiaque, me chamaram pra ir com eles.
Assegurei à Kerry que eu estava bem, larguei minha mala e em poucos minutos estava pronta pra minha primeira aula de caiaque. Nesse meio tempo, a Kerry, ainda em choque, já tinha corrido pra Carol, a vizinha da frente, e conseguido uma cama pra mim! Com a ajuda da Carol e Gabi (flatmate da Carol), carregamos a bendita até meu quarto, o que me deu o alivio de não ter que dormir naquele chão. Sem pensar mto no assunto, me juntei aos meninos e fomos pra piscina ter aula de caiaque. Foi o meu primeiro momento com o resto do grupo e, como não deixaria de ser, me senti um peixinho fora dágua.
Apesar da primeira impressão, a casa não é tão mal assim e não mudaria daqui nem a pau. Amo meus 4 meninos e por mais bagunçada que seja a casa e pequeno que seja o meu quarto (que depois de alguns dias de limpeza geral ficou show) nunca conseguiria pessoas melhores pra dividir apartamento. São uns amores e super prestativos, fora que amam viajar e me levar com eles. O que mais eu poderia querer?
Hanging Rock, a 20 minutos de Timaru, com direito a mergulho no rio depois da escalada. Vias curtas, mas várias!
Aoraki Polytechnic, a casinha ao centro é onde temos aulas. Parece simples, mas é mega sofisticada.
Vista das montanhas perto de Mt Cook, a 3 horas de casa.